terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balancete: 2013


How do you measure
Measure a year?
In daylights, in sunsets
In midnights, in cups of coffee
In inches, in miles
In laughter, in strife
(Seasons of Love - Rent)


Eu nunca gostei muito de retrospectivas pessoais. Dá aquela sensação de que você tem uma meta a cumprir por ano e que, caso não seja realizada, vai te tornar um fracasso sem fim. 

Não preciso desse tipo de ansiedade na minha vida, não agora.

Tampouco estou criando muitas expectativas para o ano vindouro.

Just living.

Completei 26 anos em 2013. Estou mais perto dos 30 do que dos 20.

Então basicamente caiu a ficha de que não estou no limbo e sou (aparentemente) uma pessoa adulta. Questionamentos que, antes, nem passavam pela minha cabeça, começam agora a ser mais constantes. Preocupações com o futuro, segurança financeira, um lugar que seja só meu...

Foi o primeiro ano em que trabalhei unicamente como tradutora, sem carteira assinada e salário fixo; e acho que me virei muito bem até o momento. Agora tenho empresa de tradução, CNPJ, contador e impostos sem fim para pagar todo mês. Responsabilidades que nunca achei que fosse ter tão cedo na vida.

Também sinto que estou mais solta, menos fechada. Com uma vida social quase decente - e sim, eu gosto dessa nova pessoa mais leve, menos casmurra e angustiada. Um pouco menos eu, mas ao mesmo tempo muito mais eu. Talvez tenha sido um ano de redescoberta de algumas coisas. Estou mais apaixonada pela vida e pelas pessoas de um modo geral. Com vontade de conversar e aprender mais sobre o ser humano em toda a sua complicação e fascinação. Querendo realmente conhecer as pessoas, mesmo que isso implique em decepções, enganos e um coração partido.

Talvez por isso a vontade de voltar a escrever tenha voltado com tanta força, principalmente nesse restinho de ano. Porque 2013 me deixou com vontade de compreender. E só consigo isso quando transformo sensações e sentimentos em palavras. Mesmo que seja um fingimento poético.

Que 2014 seja inspirado, que estórias (e histórias) sejam escritas e vivenciadas com intensidade, que a vida não seja levada tão a sério, que cada momento seja vivido de modo único. Rir nas horas alegres, chorar com os fracassos e angústias, esbravejar ao lutar por algo melhor. Porque a vida é uma sucessão de momentos.

Não tenho grandes planos para o próximo ano. Talvez eu volte a estudar, aprender um idioma novo. Talvez eu viaje para um lugar desconhecido. Talvez eu escreva um livro.

Talvez eu não faça nada disso.

Ou faça tudo isso e um pouco mais.

Quem sabe, não é?

Então é isso. Nos vemos por aqui, nesse cantinho de monólogos compartilhados.

Feliz ano novo, amad@s!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

#Music Monday: One for the Road (The Kinks)




Porque acordei morrendo de vontade de ouvir The Kinks. Mesmo conhecendo tão pouco, adoro ouvir. E é uma das bandas que preciso ouvir mais em 2014 - acordar todo dia ouvindo All Day and All of the Night não é o bastante.


Tracklist:

  1. Opening 
  2. The Hard Way 
  3. Catch Me Now I'm Falling 
  4. Where Have All The Good Times Gone 
  5. Intro : Lola 
  6. Lola 
  7. Pressure 
  8. All Day And All Of The Night 
  9. 20th Century Man 
  10. Misfits 
  11. Prince Of The Punks 
  12. Stop Your Sobbing 
  13. Low Budget 
  14. Attitude 
  15. (Wish I Could Fly Like) Superman 
  16. National Health 
  17. 'Till The End Of The Day 
  18. Celluloid Heroes 
  19. You Really Got Me 
  20. Victoria 
  21. David Watts 



Menção honrosa: "Lola" - porque amoamoamo essa música.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Mais do mesmo

Ri da sua expressão absurda quando me disse odiar clichês, tão certa de que isso era algo notável sobre a sua personalidade.

Amiga minha, eu lhe asseguro, você é o maior deles.

Do batom vermelho (manchando o cigarro barato que segura de modo blasé entre dedos nervosos) até o vestido florido comprado em um brechó na Augusta... tudo em você parece cuidadosamente escolhido de modo a mostrar que não é como os outros. Acreditando que as leituras intermináveis e a ânsia contínua por um sentido transformá-la-iam em um ser iluminado que estaria de posse de algo único e raro. 

Especial.

Adorada minha, você não passa de um acúmulo de células e átomos funcionando em uma frágil estrutura de sangue e carne. Um pequeno milagre ambulante, ignorante de si mesma e dos outros ao seu redor.

Carregamos o universo em nossas entranhas, e somos tão mais que o nosso gosto por músicas, livros e filmes. Você nunca conseguiu compreender isso. Achando-se tão superior por não ser popular, por gostar de filmes antigos e apegando-se a memórias alquebradas de um tempo que não viveu.

Noites insones regadas a drogas psicotrópicas não lhe trarão respostas. Escondendo-se sob a sua melancolia como se fosse maquiagem.

Amada minha, não faça isso com você. 

Não se angustie assim.

Coloque os pés na terra. Sinta o sol queimar a sua pele translúcida.

Viva, minha querida. Apenas viva

E se permita viver.


(22/12/2013)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

faxina emocional

enfim resolvi tirar as teias de aranha daqui. daqui de dentro.

um "regurgitamento" emocional, por assim dizer. 

termo bonito, não é, my dear?

cansaço emocional deve ser curado de que maneira? será que dormir e apagar e esquecer é o suficiente? mergulhar na inconsciência e no escuro auto-impostos? 

cansaço do peso que parece me afundar em pensamentos inúteis. desses que eu não consigo afastar. isolamento na própria mente, no mundinho imaginário e confortável. 

um refúgio que me protege da insanidade, que me protege da dor.

do tédio eterno.

infindável.

será que dá pra aproveitar algo daí? será que do vazio pode brotar algo bonito? 

e do casulo nascer uma borboleta, que renasce e renasce...

será mesmo, dearest?

bela e leve como uma borboleta?

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

#Music Monday: The Best of (Radiohead) - Parte 1



Porque é uma segunda-feira, véspera-da-véspera de natal, e trabalhei. E não tem como fugir da deprê básica inerente às festividades natalinas.


Tracklist:

1. "Just"
2. "Paranoid Android"
3. "Karma Police"
4. "Creep"
5. "No Surprises"
6. "High and Dry"
7. "My Iron Lung"
8. "There There"
9. "Lucky"
10. "Fake Plastic Trees"
11. "Idioteque" (radio edit)
12. "2 + 2 = 5"
13. "The Bends"
14. "Pyramid Song"
15. "Street Spirit (Fade Out)"
16. "Everything in Its Right Place"


Menção honrosa: "Just", "Creep" (óbvio!) e "2+2=5" (George Orwell feelings, man!).

domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma casa em que vivi

Costuma-se dizer que Lar é o lugar onde o coração vive. Mas há quem diga que é a própria Casa que possui vida.

O alvorecer, quando traz luz e calor para o recomeço do mundo, preenche e renova a vida que pulsa em cada canto da Casa.

No quarto de dormir, apenas o ressonar suave das cortinas modestas, que se movem passivamente quando tocadas pela brisa matinal, quebra o silêncio. O espelho na porta do guarda-roupa antigo reflete todos os pequenos detalhes que foram cuidadosamente decorados ao longo dos anos: pequenos bibelôs – lembranças de viagens e encontros e agrados, a imagem da Virgem esculpida em barro e que sempre mantém vigilância, a cama de Casal – sempre protetora e reconfortante, o receptáculo dos sonhos de uma vida – um bilhete qualquer sobre a mesinha de cabeceira, guardando uma mensagem que ficará preservada até o fim dos tempos.

Assim como seus habitantes, a Casa também desperta de seu sono reparador à mesma hora. Gradativamente, cada cômodo parece espreguiçar-se e ganhar ânimo novo e acordar para a Vida.

A luz do Sol invade a sala de estar através da janela que vive emperrada; e é como se a garotinha do quadro protestasse por ter seus olhos desenhados perturbados pelas réstias de luz. Os livros antigos parecem brigar por espaço na estante abarrotada de coisas, como se o contraste entre novo e velho fosse uma batalha diária. E existem também os resquícios das pequenas travessuras infantis, que estão presentes nas marcas da parede, meros lembretes de que a criança ainda vive naquela Casa.

O resto da Casa abandona a sonolência aconchegante quando o aroma da primeira refeição do dia insinua-se por cada brecha. O som dos utensílios domésticos e do movimento na cozinha misturam-se às vozes murmuradas, quando a Casa e a Vida renovam-se para um novo dia.


(Jéssica Oliveira – 18/09/2007)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ângelus


Poder-se-ia dizer que acordara apenas nostálgica ou que uma muda e passiva tristeza moviam os seus passos silenciosos. Contudo, no semblante aparentemente tranqüilo havia uma angústia indizível. Não havia um motivo concreto para tal, porque há dias em que se tem saudade de algo que não sabemos o que é, e esta dor, esta agonia causa-nos tanta exasperação que é quase reconfortante entregar-nos à melancolia.

Caminhou pelas ruas da grande metrópole imersa em pensamentos. Sabe, é que a mente nunca pára. Sempre trabalhando. Sempre confusa. E um pensamento chamava outro, corrompia o anterior, tornando-se algo mais que assombroso.

E naquela tarde em que caminhou pelas ruas movimentadas da grande cidade, as nuvens nebulosas e o tempo cinzento davam a impressão de que tudo fora descolorido e que tudo agitava-se silenciosamente em espera e que a angústia sentida era compartilhada como se tudo estivesse a espera de um sinal.

Quase soltou um riso curto e seco, riso de ironia e leve despeito quando achou que a inquietação sentida reverberava e ecoava com o badalar dos sinos da catedral. Era um som que tinha algo de assombroso e solene. Imponente. Algo que tocava fundo, como se uma mão de toque imperioso lhe violasse o interior e expusesse o que não havia para ser revelado.

Perdoem leitores – caso haja algum – se a minha tendência é ser confusa. É que não sei falar de algo que é sentido por outrem e não cair na prolixidade da complicação. Ser simples é sempre mais difícil e falar de algo sentido e que não se sabe o que é, exige habilidades que não possuo.

Todavia, o badalar dos sinos era apenas a anuncio do Ângelus.

“Por quem os sinos dobram?”

Por quem?

A célebre frase sempre fora uma incógnita para ela, que não entendia, mas apenas sentia aquele som grave percorrer o seu corpo pulsando em suas moléculas inquietas.

“Eles dobram por ti”.

Eles dobram por todos. Eles dobram para todos.

E era como se aquele som pungente, quase doloroso, repetisse em eco: por ti, por ti, por ti...

- Angelus Domini nuntiavit Mariae.
- Et concepit de Spiritu Sancto.

Persignou-se, sem nem mesmo entender a razão. Passara todos aqueles últimos meses perguntando-se se havia alguma força superior, um Deus que em seu poder infinito olhasse e velasse por eles, pobres homens que estavam jogados nas trevas do sofrimento e da morte. Talvez aquele simples gesto tivesse tornado-se uma rotina, um hábito que lhe fora ensinado desde que fora capaz de pronunciar as primeiras palavras.

Por breves instantes cogitou a possibilidade de entrar na catedral. Acabou recuando alguns passos, os olhos perscrutando de maneira inquisitiva as paredes de pedras frias e cinzentas.

Quando menina tivera uma relação intima de amor e entrega com o Divino, mas a imagem dos santos dava-lhe a sensação de estar sendo constantemente observada. Era inquietante, mesmo sabendo que aqueles olhos pintados em barro seco nada viam.

Parte daquele desconforto estava no fato de que sabia que nunca estava sozinha e, ao passo em que este pensamento a atemorizava, ele também a confortava – como se tivesse um melhor amigo que pudesse levar a todo canto – e, de fato, o tinha.

E desta vez realmente sorriu. Sorriso discreto e matreiro, daqueles que se dá quando alguém muito querido faz uma surpresa – dessas que te fazem bem - e, mesmo sem querer admitir, sente que era aquilo de que se precisava.


A angústia sentida esvaiu-se com a mesma rapidez com que surgira, porque sabia que nunca estaria só e o Ângelus anunciava aquela verdade simples com o seu ressoar: por ti, por ti, por ti...


(Crônica escrita em Frei Paulo, SE, em 08/07/2007)

(da série "preciso voltar a escrever porque as vozes não me deixam em paz!)