segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mais-que-(im)perfeito

"It's better burn out than to fade away..." escreveu Ela na página dele em uma rede social. Como se fosse um desafio, uma provocação bem direcionada aos constantes comentários oblíquos que ele costumava lhe deixar.

Toda Ela era um imperativo. Não daqueles que são negativos, implicando uma recusa que ele sabia ser incapaz de dar. Era sempre amo, odeio, venero, fujo, necessito, procuro, desejo mais e mais e mais... Com Ela era sempre tudo muito espontâneo, terrivelmente direto e inexpugnável.

E ele?

Pobre, pobre infeliz, apenas um subjetivo envolto em dúvidas, anseios, sonhos e suas (im)possíveis causas para um amor natimorto.

Por Deus, lá estava ele outra vez falando de Amor, como se soubesse o que quer que fosse do assunto. Conhecia o sentimento exacerbado somente através de filmes, leituras infinitas e das canções angustiadas que embalaram a sua adolescência perdida.

Ensaiou fazer-lhe uma declaração um sem número de vezes. Tantos eram os cenários e situações... 

As fantasias eram as mais variadas: ora Ela o aceitava e retribuía o seu amor, ora lhe respondia com um sorriso indulgente e uma oferta de amizade. 

Mais de uma vez esteve prestes a lhe enviar um dos muitos textos que transpirava em noites insones enquanto pensava nela. Mais de uma vez quase ligou no meio do dia, no momento mais aleatório possível, apenas para dizer que sentia sua falta. Mais de uma vez tentou ser menos ele.

Ele era patético, era essa a verdade.

É que não sabia amar sem que fosse platônico. 

A possibilidade de se expor o aterrorizava sim, era verdade. Mas o que o consternava mais ainda eram as infinitas possibilidades - justo ele, que era dado a fantasias tresloucadas.

Se Ela o aceitasse, era certo que não duraria. Ele era calado demais, ensimesmado demais, estranho demais. Não saberia como compartilhar a sua alma solitária, deixar que ela o enxergasse. Mesmo quando Ela dizia gostar do seu ar de poeta romântico, ele sentia que nunca seria capaz de exprimir um centésimo de tudo aquilo que sentia por Ela, que eventualmente se cansaria dele.

E a possibilidade da rejeição, meus amigos... ah, isso era muito mais do que ele era capaz de suportar.

Por isso permaneceria assim, alimentando-se das migalhas de atenção que Ela lhe dava. Um dia, talvez, ele lhe entregaria o seu coração, para ser usado e manipulado como Ela bem entendesse. Um dia, quem sabe, deixaria de ser um covarde. 

Mas não tão em breve. Não hoje, não agora.

Ainda não estava pronto para abrir mão do seu amor egoísta.


(Jéssica Oliveira - 27/01/2014 - passível de ser reescrito ad infinitum)

Um comentário:

Daniele Vintecinco disse...

Ah, amor platônico, quase um vício. E talvez fossem todos os amores um pouco egoístas. Amei o texto Jeh.